O orgulho das faixas de “bixo”

Nas cidades que passei as férias no Rio Grande do Sul, percebi um hábito muito interessante que nunca tinha visto em São Luís ou em outros lugares que visitei. Quando os filhos são aprovados no Enem ou vestibular, as famílias preparam faixas de “bixo”, com o nome do mais novo universitário e do curso. Vi essas faixas em casas de ricos, de classe média e pobres. Vi faixas de aprovados em todos os cursos, não só Medicina, Direito e Engenharia. O Rafa aí da foto foi aprovado em Geografia, embora não dê pra ver.

Isso me fez lembrar da infeliz declaração do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, afirmando que as “universidades devem ficar reservadas a uma elite intelectual”. Uma frase dessas só pode ser fruto de uma ignorância absurda ou uma desonestidade imensa. A existência de universidades no Brasil é recente e atravessada por marcadores econômicos. Historicamente, só tinha acesso à universidade quem possuía dinheiro pra permitir que seus filhos estudassem na vida adulta. Não à toa, nos cursos mais antigos (Medicina e Direito), sobrenomes de famílias “tracionais”, ou seja, ricas, revezavam-se geração após geração. E querem fazer a gente acreditar que existe uma elite intelectual que merece estar na universidade, quando sabemos bem que a elite intelectual sempre foi econômica, com raríssimas exceções.

A universidade tem que ser um espaço de todos. E digo, por experiência própria, que ela é o caminho para o pobre obter a dignidade mínima e a competitividade necessária em um mundo tão desigual e desonesto. Querem nos fazer acreditar que não temos potencial para mais, para que nos acomodemos nesse contexto de exploração cada dia mais cruel que desenham para os trabalhadores brasileiros.

As faixas de “bixo” me lembraram do quanto temos que ter orgulho de sermos universitários e que devemos lutar para que cada dia mais e mais pessoas consigam ter acesso à universidade pública e de qualidade. Devemos defender a universidade porque, neste atual governo, os ataques a ela e a ciência que dela nasce serão muitos, pois querem convencer a população de sua ineficácia para que ela volte a ser ocupada pelos privilegiados de sobrenomes “tradicionais”.

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